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Por trás de cada bom livro existe uma grande alma, e no caso de Manuela Pereira, essa alma compartilha histórias de centenas de pessoas ao redor do mundo.

Com um currículo impressionante como escritora, ghostwriter e mentora, Manuela é uma figura inspiradora no universo da escrita. Nesta entrevista, ela revela sua paixão pela escrita, os bastidores de sua trajetória e sua visão de como empoderar outras pessoas por meio das palavras

Manuela, você já escreveu centenas de livros e orientou muitos clientes. O que te motiva a continuar nesse campo da escrita e mentoria? 

Desde muito nova que a escrita se fez presente na minha vida. Primeiro, através de um diário  com os anos, mais consciente, como ferramenta de equilíbrio emocional e, só posteriormente, como uma missão que não é mais do que uma forma de dar vida às histórias que precisam ser contadas. O que me motiva, neste processo, é a oportunidade de transformar ideias em palavras que tocam, inspiram e impactam vidas. Ver um cliente/autor reconhecer-se no texto que escrevi, na história que construí, ou emocionar-se com o resultado do meu trabalho, é a maior recompensa. Como mentora, a possibilidade de moldar alguém por entre as entrelinhas do processo da escrita é fantástico. José Saramago disse que “... todos somos escritores, só que uns escrevem e outros não”. E é verdade. Como também é verdade que muitas pessoas têm histórias inacreditáveis dentro da sua mente e apenas precisam de treino para saber como as escrever. A escrita, acima de qualquer forma de talento, é muito treino. A mentoria é a ferramenta que elas precisam para o fazer. Tal como se vai ao ginásio para treinar o corpo, a mentoria escrita treina a criatividade, a motivação, a técnica e a disciplina.

Como você começou sua carreira como escritora? Houve algum momento marcante que te fez perceber que esse era o seu propósito? 

Comecei aos 12 anos a escrever em diários, por influência da minha madrinha (que considero mãe). O diário ensinou-me que as palavras têm força e a forma como as soltamos liberta-nos. Este ‘vício’ de escrever transformou-se, ao longo da minha adultez, num sonho. O de escrever livros, de influenciar, de inspirar quem me lesse. O de me tornar imortal. E comecei a projetar tornar-me mais do que uma simples pessoa que partilhava ideias e textos num blog (que já não existe). Assim nasceu a minha primeira obra ‘Pacto de Silêncio”. O livro que mudou a minha trajetória porque, realmente, percebi que os livros podem mudar pessoas, podem, inclusive, ser um farol num momento menos positivo. Podem ser aprendizagem. Podem ser uma solução. Já o facto de querer ser ghostwriter nasceu de uma sincronicidade (não acredito em acasos), quando, um dia, ao ver o programa da Oprah assisti a uma entrevista de uma jornalista que optara por seguir a profissão de ghost. Tudo aquilo que ela expressou: o prazer de construir histórias, a sensação de grandiosidade por poder ter o privilégio de entrar na vida de pessoas reais, o reconhecimento de alegria que obtinha por parte dos seus clientes/autores e a gratidão que recebia de cada um deles, ligou um interruptor em mim que me fez questionar: “e se o meu caminho fosse por aqui?”. Foi assim que tudo se abriu e eu comecei, intensamente, a escrever para os outros. 




 Como ghostwriter, como você consegue capturar a voz única dos seus clientes? 

Capturar a voz dos meus clientes/autores é um processo de empatia e escuta ativa. Em primeiro lugar, dedico-me a entender as suas histórias, emoções e quais os objetivos que os impeliram, neste ou naquele momento, da sua existência. Jamais julgo! Através de longas conversas, de observações pormenorizadas e muitas perguntas, consigo ‘vestir-lhes a pele’ e escrever como se fossem eles, ou muito perto disso (os autores validam sempre e interferem muito no que eu faço). É preciso, ainda, saber colocar-me no lugar deles. Esquecer-me de mim por instantes e ser eles. A maior virtude de um ghostwriter é conseguir desapegar: dele mesmo, das suas crenças, dos seus valores, de julgamentos, pois só assim conseguirá ‘ser’ alguém muito perto do seu narrador, neste caso, o cliente que me está a narrar a história.

Pode nos contar sobre a sua visão no processo de mentoria? Como você ajuda outras pessoas a se expressarem por meio da escrita? 

A mentoria, para mim, é uma espécie de troca. Eu ajudo os meus mentorados a encontrar a sua própria voz e a estrutura das suas narrativas. É sobre guiá-los, mostrando que a escrita pode ser fluída e autêntica, sem que percam o foco no objetivo que pretendem que o livro atinja. Ensinar como canalizar emoções e ideias em palavras é a parte mágica do processo e uma forma de poder porque a escrita é um superpoder. Normalmente, o que falta às pessoas que me procuram para mentoria é disciplina e compromisso com o processo criativo. Há quem ainda pense que precisa de inspiração para começar a escrever, e o processo é reverso. A inspiração, para que exista, precisa encontrar-nos a trabalhar. É a motivação e o compromisso que levam alguém a estar meses consecutivos a produzir uma obra, sem esmorecer. A criatividade cresce na mesma proporção do exercício que dedicamos a escrever. Quanto mais o fazemos, mais inspiração e criatividade. Claro que a técnica também é outro factor da procura pela mentoria. As pessoas chegam confusas, procuram fórmulas rígidas para escrever, regras, esquemas, quando, na verdade, a escrita é um processo livre que varia de indivíduo para indivíduo. O que funciona para uma pessoa, não funciona para outra devido a aspetos ligados à experiência de vida e da própria maturidade. A mentoria ajuda a descobrir que não há regras, há um processo que está profundamente ligado ao escritor.

Qual foi o projeto mais desafiador que você já realizou até hoje, e o que você aprendeu com ele? 

O projeto mais desafiador são as pessoas em si. Trabalhar com pessoas não é tão simples como parece e gerir as suas emoções muito menos. Os clientes/autores chegam com um sonho, com uma expetativa e depositam no ghostwriter a força (intensa) que isso possui. Vão exigir trabalho rápido, vão ser invasivos, vão querer acabar o livro o mais rápido possível (e não é nunca no tempo que desejam), vão tornar-se inseguros, alguns emocionalmente menos controlados. Umas vezes, vão ser empáticos, outros vão perder a paciência. Vão ser exigentes, vão obrigar o ghostwriter a refazer mil vezes um texto ou um capítulo. Vão contrariar a experiência do ghost. Vão tentar ensinar-lhe algo para o qual o contrataram. O projeto mais desafiador são as pessoas, não é o livro, não é a história. São as pessoas e o processo, sempre.



 Com tantos clientes e livros escritos, você sente que tem um impacto nos seus leitores? Pode compartilhar um exemplo significativo que aconteceu por meio do seu trabalho? 

Sim, sinto que o meu trabalho impacta vidas, todos os dias. Quer como escritora, quer como ghostwriter e mentora. Tenho exemplos de autores que, após escreverem um livro (que diziam ser só um), repetiram a experiência duas e três vezes, começando uma nova carreira enquanto autores. Tenho clientes/autores que passaram a projetar outros desafios, como palestras, após terem escrito a sua obra; ou outros que, graças à obra, encontraram o tal reconhecimento de pessoas que jamais tinham visto a sua vida, ou luta, por outro prisma. Quantos clientes/autores eu tive que nunca teriam escrito o livro se não me tivessem encontrado. Impacto, inclusivamente, de forma intemporal. Sinto que o meu papel foi fundamental para esse sonho que alimentavam, e esse sonho mudou cada um deles para a sua vida inteira.

O que, na sua opinião, torna a escrita corporativa única, e quais são as ferramentas que você usa para transmitir mensagens eficazes? 

A escrita corporativa tem a sua própria dinâmica. Trata de transmitir mensagens claras e estratégicas, sem perder a essência humana. Não é a área da escrita que mais aprecio no desenvolvimento da minha atuação, mas sei do impacto que ela possui dentro das organizações, sobretudo, quando uma grande maioria de pessoas/profissionais não sabem comunicar-se por escrito. Para transmitir mensagens eficazes, é preciso desenvolver-se uma escuta ativa que permita compreender profundamente o outro (vê-se muito pouco esta capacidade), usar um bom storytelling para criar conexões emocionais. Os textos devem ser claros e objetivos, para além de cuidadosamente revistos (cometem-se muitos erros). Sem esquecer que escrever com empatia (de humano para humano) leva-nos a interpretar uma mensagem de forma muito mais assertiva.

Quais são seus objetivos para o futuro próximo? Você tem algum projeto ou ideia nova que gostaria de compartilhar? 

Eu sou alguém que não vive no futuro, mas no presente. Por isso, faço planos a curto prazo (dois ou três meses) e preocupo-me em, diariamente, expandir a minha atuação em projetos que não exijam longos prazos (anos). Gostava muito de, um dia, palestrar e, quiçá, desenvolver formação em instituições de ensino muito voltadas para a escrita de livros ou como ferramenta de autoconhecimento, especialmente, para pessoas que querem ser escritoras, que têm histórias incríveis para contar. Mas a curto prazo, tenho um novo livro para escrever - e lançar - nos primeiros meses de 2025, um thriller.




Qual é a dica mais importante que você daria para alguém que está começando no mundo da escrita? 

Não tenham medo de começar. Escrever é um processo de descoberta e prática. Todas as histórias precisam de paciência. Escrevam sempre com o coração. Não se agarrem ao medo de falhar, os livros também precisam de nascer para nos ensinar a melhorar. Não esperem por estar prontos, nós ficamos prontos a fazer. E jamais recuem com receio às críticas. Existirão sempre, cabe a cada um saber de onde vêm e qual a intenção do emissor ao tê-la feito. Acreditem em vós e na vossa história.

Se pudesse escolher uma história ou um projeto que marcou profundamente sua carreira, qual seria? E como essa experiência influenciou sua visão sobre a escrita e os seus objetivos futuros?             

O livro “Entre o Céu e a Terra”. Possui histórias de pais que perderam os filhos para o cancro; ter reunido estas histórias (são 6) não foi simples. Ouvir os relatos dos pais em luto (o luto dura a vida inteira) foi uma experiência que exigiu de mim muita capacidade de encaixe. Tratar do tema sobre a morte e a vida, nesta perspetiva, fez-me ponderar, mais uma vez, a nossa própria vida e o sentido que lhe damos. Despertou dores antigas. O livro já foi físico, mas hoje existe apenas 

em e-book e podem encontrá-lo aqui: 

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